O Menor de catorze males: Greg Rucka e Michael Lark em “Lazarus”
Entrevista com Greg Rucka e Michael Lark

Lazarus, a história criada por Greg Rucka e Michael Lark situa-se num futuro em que nações foram dissolvidas e reconstruídas e o mundo é governado por quinze famílias. Forever, a Lazarus da família Carlyle, é um soldado altamente treinado, que renasce cada vez que os seus inimigos a tentam aniquilar.
Comics Alliance (CA): Uma das coisas mais interessantes desta história, é que vocês criaram estas 15 famílias que dividiram o mundo, cada uma com uma especialidade, genética ou farmacêutica. Em termos do argumento, percebemos que estas famílias são “más” quando se referem a outras pessoas como “Desperdício” ou “Não-pessoas”.
Greg Rucka (GR): As personagens são um dos pontos fortes da série, penso eu. Fizemos os leitores ficar do lado de um dos personagens que não é “bom”, porque afinal ele é o menos mau de todos. Os leitores têm que se lembrar que Carlyle não é uma pessoa simpática. Foi ele o criador deste mundo.
CA: Michael, isto foi um desafio para si? Descobrir maneiras contraditórias de representar uma distopia?
Michale Lark (ML): Sim, foi realmente divertido. Existe uma guerra neste mundo e cada vez que vemos uma nova família, é preciso projetar mais um conjunto de armaduras para os seus soldados usarem.
GR: Tu adoras essa parte!
ML: Sim. Conversamos sempre sobre a estética de cada família. Há uma tentativa de tentar mostrar a personalidade de cada família visualmente e na forma como se apresentam aos seus cidadãos e ao mundo.
Os soldados da família Hock são figuras sem rosto, assustadoras, parecem robots. Eles estão cobertos com uma armadura preta da cabeça aos pés. Os soldados dos Carlyle são um pouco mais reais, eles podem erguer a viseira dos capacetes e conseguimos ver os seus rostos.
GR: São humanizados.
CA: Isso leva à minha pergunta seguinte, mas o que vocês procuram na pesquisa dos personagens? Como pesquisam uma distopia?
ML: Existem muitas coisas na internet, é só uma questão de procurar. O mundo que estamos a criar não é assim tão diferente daquele em que vivemos hoje. Existem inovações tecnológicas, mas o que estou a desenhar passa-se na Europa dos dias de hoje. Para extrapolar o futuro a partir de hoje, não é preciso reinventar tudo. Não é como “2001: Uma Odisseia no Espaço”, é apenas uma questão de acrescentar um pouco – ou, no caso de uma distopia, afastarmo-nos um pouco do que conhecemos.
(…) Existem lugares, como o centro de pesquisa dos Carlyle em Sequoia, que são muito modernos, foram construídos nos últimos 50 anos. Podem ser bastante futuristas. Mas a maior parte do mundo não é assim.
CA: Greg, não fica deprimido com a pesquisa que faz para alinhar tudo?
GR: Sim. Frequentemente.
ML: O que explica por que ele é uma pessoa tão feliz.
GR: Leio muitos feeds de notícias e outros artigos para rastrear informação. Mas Michael e Eric Trautmann – em particular o Eric – enviam-me links. “Aqui está um protótipo para um drone”, “aqui está um protótipo para uma armadura”, “aqui está um protótipo para um tanque”, “aqui está um protótipo para uma nova arma”, coisas do género. Quando trabalhamos em áreas muito futurísticas , trabalhamos com projetos e tecnologias emergentes.
ML: Há muitas referências de protótipos e conceitos.
GR: Mas enfim, sim, a leitura pode ser deprimente. Pode ser mesmo deprimente.
CA: Sendo assim, existe um momento em que você sente que precisa de recuar? Lazarus é um livro sombrio, é uma história onde o nosso personagem principal é um assassino para os governantes de um futuro distópico. Simpatizamos com a personagem porque vemos como ela é usada e manipulada, mas há alturas em que você se sente triste com isso?
GR: Isso não é nada. Eu recuo? Sim, às vezes.
(…) Existem partes do mundo que não examinamos que são realmente vis. A natureza do sistema é tal que os lobos que atacam ovelhas, fazem-no por vezes impunemente, e não é só nisso que a nossa história se foca. Há outras histórias que poderíamos contar, que seriam muito mais sombrias.
CA: Mencionaram a ideia do realismo que aparece na arte, e sinto que isso também se passa nas vossas colaborações do passado. Acho que a abordagem da super-heroína realista, por falta de um termo melhor, funciona muito bem nos vossos livros, e nem sempre sai bem em outros. Existe algum segredo na forma como vocês fazem isso?
ML: Não sei se Lazarus seria o mesmo livro se o fizesse com alguém que pudesse fazer coisas super-heroicas, mas espero que não seja disso que o Greg esteja à procura.
GR: É alquimia. Há um elemento de magia em ação. Acho que Michael e eu temos personalidades e estéticas que contrastam e nos ajudam. Somos uma boa combinação, especialmente em projetos como este, porque fundamentamos as histórias que queremos. As ilustrações de Michael criam algumas das melhores obras que eu faço.
ML: E vice-versa. A razão pela qual eu queria trabalhar com o Greg, foi por ter feito o meu melhor trabalho com ele. Há um pequeno número de pessoas com quem gosto de trabalhar, e o Greg está no topo da lista.
GR: Graças a Deus. [Risos] Diria que desde muito cedo na nossa relação, percebi que o Michael quase sempre compreendia intuitivamente o que eu tentava fazer com uma história, mesmo que não conseguisse acertar no texto do argumento. Ele sabe o que queríamos fazer. Tive momentos na minha carreira em que me aconteceu exatamente o contrário com colaboradores, mas agora trabalho com os melhores e para alguém que não sabe desenhar, esse é o Nirvana.
ML: O mesmo para mim, que não sei escrever.
CA: Podemos falar um pouco do próximo arco de história?
GR: Estamos a passar para o segundo ato da história geral. Haverá uma grande quantidade de números, tanto em termos do mundo maior como dos indivíduos da história. Algumas coisas serão exploradas e reveladas.
ML: Vamos ver muitos Lazari e lutas de espadas.
GR: Haverá muitos Lazari de um mundo a matar Lazari de outro.
ML: E jetpacks!
CA: O Michael sabe como vender o livro.
ML: Há jetpacks! Lazari com jetpacks! Comprem o livro!
Traduzido e adaptado de The Lesser Of Fourteen Evils: Greg Rucka And Michael Lark On ‘Lazarus’, por Chris Sims