E você, já leu Lazarus?
Porque é que você não está a ler Lazarus, de Greg Rucka & Michael Lark?
A história gira essencialmente em volta deste personagem, o “Lazarus” da família Carlyle. Num futuro alternativo, as famílias – que atuam como governos / cartéis – possuem e controlam grandes áreas de terra que exploram para conservar riqueza e poder. Cada família tem aliados e inimigos entre as outras famílias. Para esmagar motins e travar guerras, a maioria das famílias tem um Lazarus: um esquadrão mortífero composto apenas por uma pessoa.
Cada Lazarus é o soldado da sua família, e alguns são mais avançados e mortais que outros. Forever, o Lazarus da família Carlyle, parece ser o melhor modelo e um dos poucos que são completamente artificiais. Forever não mostra sinais de não ser humana, exceto quando faz jus ao título de figura bíblica que ressuscita dos mortos: ela cura-se mais rápido do que Wolverine, mas sente cada bala e facada. Mesmo assim, os seus cortes mais profundos são emocionais: Forever é um robô humanóide a quem fazem crer ser um membro querido da família – uma família que chama filha e irmã – quando ela não passa de uma ferramenta descartável e perigosa.
Lazarus segue Forever enquanto ela luta e sofre por cometer violência em nome dos Carlyles, mas a luta maior é se ela se pode libertar dessa família. Como qualquer pessoa dentro de uma relação abusiva e dependente, é mais fácil falar do que fazer. A relação de Forever com seus “irmãos” é rica, perturbador e ocasionalmente suave.
A relação mais próxima é entre Malcolm Carlyle (o patriarca da família) e Forever: o pai e a filha que ele literalmente criou. Malcolm é manipulador, dando e exigindo amor a Forever, conforme necessário. Mas ele ama-a de facto, à sua maneira. Nas costas da Forever, ele costuma fazer comentários como: “Cinco filhos e apenas um deles vale a pena”. Forever é esse.
A mitologia deste comic – inclui histórias detalhadas, mapas e relações, além de termos que descrevem a tecnologia e as classes sociais. Leitores de outros livros densos e distópicos, como DMZ e East of West, apreciarão a construção do mundo. Mas a ficção de Rucka e Lark não é apenas impressionante pelo nível de detalhe: oferece muitas ligações ao mundo real.

Lazarus 2, página 32
As famílias podem facilmente ser comparadas a corporações ou governos que prioritizam dinheiro e poder. Rucka e Lark também fazem uma declaração poderosa sobre como as pessoas de baixos rendimentos são tratadas como lixo no mundo real. Em Lazarus, a classe mais baixa é desperdício, e os membros desta casta têm sorte se sobreviverem. A esperança para pessoas presas nesta demografia é viajar centenas de quilómetros para trabalharem para as famílias. As pessoas podem ser levadas à servidão, desde que tenham uma habilidade valiosa e sejam saudáveis. A história concentra-se em alguns personagens que sobem de lixo para servos, e as trocas que eles fazem para conseguir uma vida melhor.
Quanto a Forever, como qualquer personagem complexa, tem várias leituras. Uma interpretação é que ela simboliza as mulheres que dão tudo pelas suas famílias, mas recebem pouco em troca. No entanto o conceito de Lázaro é mais amplo do que o de género, como Rucka e Lark destacam através da camaradagem dos Lazari, que se respeitam e gostam uns dos outros, embora possam, a qualquer momento, ser enviados para matar os seus pares.