Sunny 02
Taiyo Matsumoto
Originalmente publicada na IKKI magazine entre 2010 e 2015, Sunny desenvolve-se em torno da vida dos residentes da casa de acolhimento Hoshinoko.
Ao longo da história, com um total de 3 livros, o autor apresenta os vários personagens que vivem nesta casa, um mundo habitado essencialmente por crianças, as suas rotinas, amizades e conflitos.
Nos momentos mais difíceis, quando as crianças se sentem impotentes perante o facto de terem sido abandonadas pelas famílias, o seu refúgio é um Sunny 1200, um domínio apenas seu, onde os adultos não podem entrar e onde é possível fugir da dura realidade, sonhar e viajar para mundos imaginários.
No volume 2 de Sunny continuam as aventuras dos personagens que já conhecemos: Haruo, a quem chamam “White” por causa do seu cabelo precocemente branco; Kenji, que tem uma relação controversa com o pai bêbedo; Megumu, que tem medo de morrer abandonada; Kiiko, que gosta de Haruo; Junsuke e Sei, entre outros.
As estações sucedem-se e mais um pouco da vida de cada um dos residentes da casa Hoshinoko vai sendo desvendada, numa narrativa suportada por páginas densas, outras arejadas e poéticas ou com um desenho mais pormenorizado.
A arte de Matsumoto é única e a forma como a linha da ilustração se combina com a cor, é ao mesmo tempo delicada e rude, direta, depurada. As ilustrações são realistas, com ambientes urbanos, casas e salas desenhadas ao pormenor mas também quase abstratas – apontamentos de cor, manchas pretas, claros e escuros que definem as figuras ou os locais onde decorre a ação. As suas páginas têm uma serenidade muito especial, convidando o leitor a deter-se nos pormenores, a “saborear” com calma a história, a emocionar-se com os imprevistos da vida dos seus protagonistas.


O autor
Taiyo MATSUMOTO nasceu em Tóquio em 1967 e sonhava vir a ser jogador de futebol, mas apaixonou-se pela banda-desenhada europeia e aos 20 anos publicou o seu primeiro mangá.
A sua obra reflete muitos dos seus interesses e vivências, transitando entre temáticas de desporto, comédia familiar, relato social ou o épico de ficção científica. O seu estilo artístico, diferencia-se pela combinação singular de realismo, sonho e fantasia.
O autor viveu numa casa de acolhimento quando era jovem, mas desmente que Sunny seja um livro autobiográfico. Numa entrevista concedida à Time Out Tokyo*, em 2013, o autor falou longamente do seu trabalho e do papel desta obra na sua carreira de mangaká, referindo que algumas partes de Sunny são “extremamente relacionadas com as minhas próprias experiências, mas outras foram inventadas”.
Podemos relacionar a arte e forma de contar histórias do Matsumoto com outros géneros artísticos, como por exemplo o cinema, ou outros autores japoneses, como Jiro Taniguchi.
Embora o autor reconheça ter sido bastante influenciado pela banda desenhada europeia, é indiscutível que o ponto de vista reflexivo, tranquilo, tem pontos comuns com as obras de Jiro Taniguchi. Matsumoto regista os acontecimentos, por vezes com alguma tristeza ou melancolia, outras com toda a ingenuidade de que apesar de tudo os seus personagens são capazes, “sem tomar partido”, quase um espetador das suas próprias páginas.
O personagem principal de “O Homem que passeia”, que pode ser identificado como o próprio Taniguchi, também se “passeia” pela história, deslumbrando-se ou refletindo sobre o que acontece à sua volta, desfrutando da beleza ou de situações insólitas, de uma forma muito centrada em si próprio, mas sem intervir, sem alterar os seus passeios ou o seu mundo interior. Embora relatados de forma realista, os mundos destes autores têm também um ponto de vista onírico, de fantasia, tranquilo e sem grandes sobressaltos, mas apreciando de forma atenta e prazerosa o que se passa à sua volta e sabendo como comunicar este prazer ao leitor.
Sunny 2 faz parte de um grupo de graphic novel que consideramos essenciais, para quem gosta de banda desenhada japonesa, mas também para todos os leitores que apreciam graphic novel europeia. A sua qualidade gráfica, narrativa e importância cultural é inquestionável não apenas no Japão.
Prémios para Sunny
• Prémio Shogakukan – Melhor mangá, 2016.
• Prémio de Excelência – Media Arts Festival, 2016.
Prémios para Taiyo Matsumoto e sua obra
• Prémio Especial da 30º Japan Cartoonist Association, para Gogo Monster, 2001
• Prémio de Excelência em mangá Japan Media Arts Festival, 2001
• Prémio Eisner da Melhor publicação Americana de material estrangeiro, para Tekkon Kinkreet, 2008
• Prémio Cultural Tezuka Osamu para Takemitsuzamurai, 2011
• Prémio de Melhor publicação Americana de material estrangeiro – Ásia, para Les Chats du Louvre, 2020.
• Taiyo Matsumoto foi homenageado no Festival de Angoulême, em 2019